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O problema é que não cabíamos todos!

2011/04/03

Eis o testemunho de Joseph Dresner que aos 13 anos viajou "pendurado" de lado de fora do carro que levava 10 membros da família para longe da guerra enquanto a Bélgica caia perante os invasores.

A família Dresner passou por Portugal e Brasil e instalou-se nos Estados Unidos, onde Joseph Dresdner se doutorou em física e trabalhou em laboratórios de investigação em Princeton, New Jersey e se tornou detentor de várias patentes. Ele cultivou sempre o Português e foi professor universitário também no Brasil.

Eu tenho uma especial dívida de gratidão a Joseph Dresner e sua mulher Esther Halpern, que esteve numa residência-fixa na Figueira da Foz. Eles foram a minha "host family" e deram-me muito apoio e amizade quando eu fui estudar para a Universidade de Princeton em 1973, e com quem tenho mantido contacto (ver foto de 2004)

Muito obrigada Joe, Esther e Lisa!

Um grande abraço,

Mariana Abrantes


O problema é que não cabíamos todos!

equipa MVASM (www.expresso.pt)
17:35 Quarta feira, 9 de março de 2011

Excerto do testemunho de Joseph Dresner sobre a sua fuga para França, aquando da invasão dos alemães à Bélgica.

França 1940 - Retirada das tropas após a rendição da Bélgica, Holanda e Luxemburgo
França 1940 - Retirada das tropas após a rendição da Bélgica, Holanda e Luxemburgo
Colecção de Margarida de Magalhães Ramalho - Sinal, nº 2 (publicação quinzenal)
"Em 1940 a guerra na Europa já era uma realidade. Como todos os rapazes desse tempo eu tinha uma enorme curiosidade sobre todos os detalhes dos aviões, dos tanques, navios de guerra, etc.
Um ano antes, o meu pai e os meus tios que tinham um negócio de diamantes em Antuérpia, onde vivíamos, pressentindo o perigo de uma nova guerra tinham mandado o meu tio mais novo para Nova Iorque para criar lá uma filial do negócio da família.
Com 13 anos gozava já de uma certa liberdade e tinha autorização dos meus pais para andar por onde quisesse dentro da cidade. O dia 9 de Maio era uma quinta-feira, não tinha aulas no liceu e por isso passei a tarde com a minha mãe a fazer compras no centro da cidade e gozando da minha última descoberta: o café expresso. A vida estava boa.
Na madrugada seguinte acordei com um barulho infernal que parecia tiros de canhão. Dei um pulo para a janela e vi que era um ataque aéreo. Ao meu lado apareceu o meu pai em pijama e disse uma coisa que mais tarde eu achei muito cómica: "Acho que estamos em guerra"
Consegui identificar o ritmo dos tiros: quatro rápidos, dois segundos de silêncio. Eram os nossos canhões Bofors de 40 mm que disparavam contra os aviões. A nossa casa ficava num sexto andar e por isso podia-se ver dali quase toda a cidade. De repente vi um " géiser" de fumo negro irromper de um prédio alguns quarteirões abaixo. Parecia uma cena de cinema mudo já que não se ouvia o barulho da bomba devido ao troar dos canhões. Alguns minutos depois vi chamas violentas saírem das janelas de um outro prédio.
Quando acabou o ataque e enquanto tomávamos o pequeno-almoço ouvimos na rádio o rei Leopoldo dizer o que já sabíamos: "mais uma vez fomos invadidos pela Alemanha que também atacou os nossos vizinhos holandeses". A minha mãe que era uma mulher muito calma começou a preparar pequenas malas para cada um de nós e partimos para uma casa que tínhamos na costa em La Panne. Não podia ter sido pior escolha já que estávamos mesmo defronte de Dunquerque...
Quatro dias depois o meu pai disse-nos que as coisas estavam muito mal e que tínhamos de partir já para sul. Não tínhamos carro e na nossa família só o meu tio Henri é que tinha carta. Comprou-se então um velho Chevrolet de 1935. O problema é que não cabíamos todos já que éramos 5 adultos e 5 crianças. Arranjou-se então um reboque para levar as malas e eu e o meu primo Jules, que era um ano mais velho ficamos de pé sobre os estribos do lado de fora do carro. E assim partimos a 10 km/ hora para a fronteira francesa. (...)"
Joseph Dresner, Princeton, New Jersey, 2004
http://amigosdesousamendes.blogspot.com/2011/04/o-problema-e-que-nao-cabiamos-todos.html
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ARISTIDES SOUSA MENDES

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