20 anos
de poluição sobre 3 mil anos de História. Até quando?
A Ribeira de
Travassos e a Ribeira do Pisão (nome que vem da existência antiga de pisões do
linho e tratamento da lã que os teares domésticos depois transformavam em
tecido para o vestuário caseiro) tornam-se numa só, a Ribeira de Beijós.
Mas é no “Poço
da Relva”, visto nesta imagem, que se pode
verificar o triste efeito das descargas poluentes com origem, há muito
identificada e assumida, no município de Nelas.
A Ribeira de
Travassos (Beijós) era um curso de água límpida, absolutamente transparente,
com vários nascentes naturais ao longo do seu curso que fornecia água para
diversos usos das populações (agricultura, alimentar o gado, banhos da garotada
quando o calor apertava, etc) mesmo quando o caudal desaparecia com a estiagem.
Muitos dos
ainda vivos aprenderam a nadar tanto no “Poço da Relva” como noutras zonas das
duas ribeiras. A boa qualidade da água promovia uma profusão de vida selvagem:
peixes de 20 a 30 cm de comprimento, enguias que podiam atingir um metro de
comprimento, lontras, galinholas, inúmeros anfíbios e outros animais aquáticos.
Toda essa
vida selvagem praticamente desapareceu e até os limos (plantas com raiz no
leito aquático) verdejantes e floridos, local predileto das rãs para um coaxar
estridente e que eram sinal da boa
qualidade da água, raramente se encontram.
Não é
exagero dizer que a Ribeira de Travassos e a parte jusante da Ribeira do Pisão,
estão mortas, fruto da poluição química que vem do concelho de Nelas.
Mas é
perfeitamente possível recuperar a boa qualidade das ribeiras de Beijós. Porém,
isso não é viável enquanto continuarem com os verdadeiros e sucessivos
crimes ambientais que, nas última duas décadas, têm afetado as ribeiras
de Beijós, particularmente a Ribeira de Travassos.
As descargas
poluentes, com origem no município de Nelas, são um grave problema de saúde pública
para todos os municípios a jusante, Carregal do Sal, Tondela, Santa Comba Dão ,
barragem da Aguieira e toda a bacia do Mondego até à Figueira da Foz. A Povoação de Beijós é a principal afetada na
sua saúde, na sua economia, no seu ambiente.
Beijós, e
toda esta vasta zona do município de Carregal do Sal, do município de Tondela,
do município de Santa Comba Dão tem todas as condições para ser uma região rural
de eleição em termos ambientais e económicos.
Mas
enfrentamos um verdadeiro “monstro” que é a poluição química, com origem no município
de Nelas.
No espírito
das pessoas locais é visível um sentimento de revolta por verem a água da
ribeira que sempre usaram é algo a que agora têm que virar costas porque
receiam, particularmente, pela sua saúde.
Revolta, mas
também descrença nas autoridades. Descrença nas autoridades locais por
ineficácia, mas também descrença no Ministério do Ambiente e seus apêndices
regionais ou GNR do ambiente. Todos
conhecedores, há muito, desta situação inaceitável.
Por isso, um
apelo à população para que una esforços para exigir uma solução imediata e
duradoura e, eventualmente, para apresentar a fatura por tantos prejuízos
causados por quem pensa que pode ter bons lucros á custa de outros ou resolver
os seus problemas com falsas soluções sem querer saber quem os paga.
Esperamos
que os autarcas das freguesias e dos municípios afetados, uma vez por todas,
ponham os pés a caminho para exigir soluções reais e definitivas para este magno
problema digno de um país rasca, mole e de cócoras perante incompetências e
interesses de legitimidade duvidosa.
Mais de 20
anos de palavreado e de promessas. Disso estamos fartos.
António Abrantes
Economista
Beijós, Carregal do Sal
26 de junho de 2021
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