A água que agora ronda as caves das casas de Sangemil em Março, vai fazer muita falta nos prados em Agosto.
VER Gestão do Rio Dão - Das Cheias à Seca Extrema
A água, das cheias catastróficas à seca extrema
Portugal, em boa medida, é um país de extremos climáticos.
Vários meses praticamente sem chover e, quase todos os anos, há cheias e inundações, algumas com danos catastróficos.
Dizem-nos, isto é próprio de um clima mediterrânico, que é o nosso. É verdade.
“Fazer” chover um pouco todos os meses, evitar tempestades de fogo como foi o caso dos grandes incêndios deste ano - o furacão Ophélia espalhou, em poucas horas, o fogo por metade do país, o fogo que alguém ateou, reduzir as situações de seca extrema, não vai ser fácil, no futuro. Direi que o que aconteceu e está a acontecer este ano vai voltar, e disso não podemos fugir.
Um país não pode mudar a sua latitude no contexto do globo terrestre mas poderá, com conhecimento, engenho e arte, minorar os efeitos negativos da sua situação geográfica, tomar essa situação como um dado e adaptar-se de modo a reduzir esses efeitos negativos.´
Este clima mediterrânico também tem aspectos muito positivos. É o caso do nosso SOL, que atrai turistas de muitas paragens, são as temperaturas amenas, etc. E como não se pode ter o sol na eira e a chuva no nabal ao mesmo tempo, há que saber viver com as situações e prepararmo-nos melhor para elas.
Considero muitíssimo importante que os responsáveis pela gestão da água venham a público falar sobre estes problemas cadentes e que tocam a todos.
Depois dos grandes incêndios recentes, os riscos sobre a poluição das águas superficiais, em resultado do arrastamento das cinzas que as chuvas vão provocar, precisam de ser ponderados, discutidos e de medidas que reduzam os seus efeitos. Será que a água que bebemos vai ter, nos próximos meses, a qualidade que todos esperam?
Começa a ser por demais evidente que o país precisa de ser alertado, diria mesmo abanado, para a necessidade de poupar, usar com parcimónia (como diz o ministro do ambiente), cuidar da qualidade desse recurso essencial água que continua a não ser satisfatoriamente gerido (está à vista) em termos de custos e de quantidade presente e futura.
Como é que se conjuga esta seca extrema e agora a despesa enorme em transporte de água com as cheias que todos os anos acontecem em muitos dos rios deste país, nomeadamente nas bacias do Dão e do Mondego?
“Existem em Portugal cerca de 250 grandes barragens, com altura superior a 15 metros ou armazenamento superior a 1 hm3 (1 milhão de metros cúbicos). (ver barragens em Portugal)
Algumas destas barragens foram construídas a fim de criar armazenamentos de água capazes de garantir, nuns casos, o fornecimento de água para rega, e, noutros, o abastecimento público, sobretudo nas regiões de maior irregularidade de recursos, em particular no sul e no Interior.” Fonte: Agência Portuguesa do Ambiente”.
“250 grandes barragens” já é muita barragem. Mas das duas uma, ou estão mal distribuídas pelos diversos rios que temos ou o sistema de gestão de todos estes recursos hídricos não é feito como devido e como o país precisa.
Não terá sido um erro o abandono, em abril de 2016, da construção da barragem de Girabolhos/Bogueira no rio Mondego, por decisão do atual governo?
O rio Dão, um rio típico de planalto, nasce em Aguiar da Beira, tem um percurso de 97 Km, chega à barragem da Aguieira, próximo da Santa Comba Dão e tem como afluentes cerca de uma dezena de outros rios e ribeiras (rio Criz, rio Pavia, ribeira de Beijós,etc.).
Não daria para construir uma outra barrgem, pequena ou média que fosse, a montante das Termas de Sangemil, no rio Dão? Correndo aí num vale relativamente fundo e encaixado, talvez que os impactos ambientais e de inundação fossem aceitáveis e menores do que o impacto de “altear” a barragem de Fagilde, como que se tem falado.
António Abrantes, economista
Nov-2017
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